No formato de um thriller provocativo e rápido, cada episódio da série Accused (Acusado), da Paramount (Prime e Apple TV), explora um crime diferente, em locais e com elencos também diferentes. São 15 histórias intensas, diretas e humanas sobre crime e punição.
Accused começa sempre em um tribunal e os espectadores não sabem nada sobre do que o réu é acusado, porque e como foi parar ali. Por meio de flashbacks, vamos conhecendo as razões e motivações de cada acusado e, assim, atuamos também como jurados, independente do veredito que será dado, o qual podemos compactuar ou discordar da decisão apresentada. Ao final, o público terá acompanhado como uma pessoa comum se envolve em circunstâncias extraordinárias, geralmente motivadas por decisões – impulsivas ou não – e como isso tudo pode impactar o curso de suas vidas (e de outras pessoas) para sempre.
A série, em sua primeira temporada exibida no Brasil (a segunda temporada estreou no início de dezembro passado nos Estados Unidos) apresenta 15 episódios, todos disponíveis, e traz a assinatura da dupla Howard Gordon e Alex Gansa, criador e produtor executivo consagrados pelas séries 24 Horas e Homeland, que inovaram o formato de se contar uma história em série na TV. Agora, com Accused, diretamente para o streaming, a dupla produz a nova versão da antologia inglesa de mesmo nome, originalmente criada por Jimmy McGovern, e vencedora do BAFTA, o prêmio da Academia Britânica de Cinema e Televisão.
No remake americano, os produtores combinam histórias de crimes inspiradas em eventos reais e procedimentos judiciais para criar narrativas que resultam mais emocionais do que esclarecedoras. Os enredos são carregados de dilemas morais e os espectadores são confrontados com histórias em que os preconceitos são postos à prova, assim como as experiências de vida de cada um. Seja um episódio, por exemplo, em que uma mãe de aluguel surda (Stephanie Nogueras) sequestra o bebê surdo que ela deu à luz para um casal ouvinte; ou no primeiro episódio, forte e contundente, em que um pai (Michael Chiklis) confronta a possibilidade de seu filho ser um sociopata prestes a cometer um massacre na escola.
Se por um lado a série está comprometida em retratar uma gama inclusiva de experiências, por outro se revela irregular, alternando bons episódios, que administram em doses certas a emoção das histórias e suas consequências, com narrativas um tanto forçadas e apelativas, que resultam em fragilidade dramática e pouca aderência na discussão moral.
Na Variety, o crítico Daniel Dáddario destaca que “mesmo que o tribunal na vida real tenha pouca semelhança com a maioria das representações da TV, é fácil ver por que o tribunal é um cenário de TV tão frequente: os julgamentos são inerentemente dramáticos, tão arriscados quanto possível e com lados opostos claramente arraigados”. Às vezes, escreve Daniel, “eu me peguei desejando que isso fosse o bastante para Accused, que frequentemente dá aos seus personagens monólogos enormes. Mas não há lastro e senso suficientes de quem esses personagens são fora dos momentos mais extremos de suas vidas”, o que poderia manter um equilíbrio maior entre os episódios.
Mas, ainda que não consiga manter o mesmo padrão de excelência narrativa entre suas histórias, vale a pena ver Accused que, além do mais, nos dá a possibilidade de assistir uma série em 15 episódios na ordem que quisermos. Afinal, seu maior trunfo é apresentar histórias diferentes de forma direta, sem muitos rodeios e perda de tempo. Em tempos de saturação informacional, isso já significa uma proeza.